A Vida e a Obra de um Cronista Pioneiro
A 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2024) terá como autor homenageado João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto (1881-1921), uma das figuras mais proeminentes do início do século XX no Rio de Janeiro. Reconhecido por sua versatilidade, João do Rio foi um cronista prolífico, crítico de arte e autor de romances, ensaios, contos, peças de teatro, e conferências sobre dança, moda, costumes e política.
João do Rio trabalhou a vida inteira em jornais e revistas, sendo um pioneiro como repórter. Ele criou um estilo híbrido que mesclava literatura e reportagem, ficção e realidade, revolucionando o jornalismo e fundando a crônica moderna. Sua observação das ruas e do povo fez ecoar os pensamentos de diversos intelectuais da transição do século XIX para o XX, que viam a cidade como o centro do pensamento contemporâneo, refletindo sobre progresso, velocidade, formação urbana e as complexidades das interações sociais.
Com apenas 29 anos, João do Rio conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras, destacando-se como um personagem multifacetado. Fascinado pelos salões da alta sociedade carioca, ele compartilhava com o século a admiração por Paris e um ideal de vida “civilizada”. Simultaneamente, foi o primeiro jornalista a subir os morros, ouvindo com atenção e empatia as vozes das ruas, tornando-se um porta-voz de um povo frequentemente ignorado pela imprensa.
Ao deixar a redação para se aventurar em vielas e acompanhar manifestações culturais, João do Rio estabeleceu um novo paradigma no jornalismo. Sua abordagem etnográfica pulsante revelava ao leitor uma cidade em transformação, até então desconhecida. Além disso, como um observador atento das modas europeias, ele se destacou como o mais fino cronista da Belle Époque carioca, narrando os salões e recepções da elite que buscava sofisticação imitando os estrangeiros.
João do Rio percorreu o mundo, acumulando admiradores e desafetos ao longo do caminho. Gordo, mestiço e homossexual, sua presença nunca passava despercebida, vestindo-se como um dândi e criando conflitos ao seu redor. Infelizmente, uma doença cardíaca o impediu de completar 40 anos, mas ele deixou um legado impressionante com 25 livros e mais de 2.500 textos publicados em jornais e revistas.
Atenciosamente,
Marcos Mariano
